#AhTriEntrevista Julia Barth

Ah Tri Cultural
7 min readJul 14, 2021

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Foto: Facebook de Julia Barth.

Há 15 anos vocalista da lendária banda de punk rock porto-alegrense Os Replicantes, produtora de eventos no icônico Bar Ocidente e atriz desde seus 8 anos de idade, Julia Barth é nova convidada do #AhTriEntrevista!

Na entrevista em formato de perguntas e respostas, Julia fala sobre sua ligação com o Bar Ocidente, que nessa semana promove o festival online S.O.S Socorro Ocidente, organizado por ela, de suas bandas (Os Replicantes, Alcaloides, 3D e Cine Baltimore) e de seus projetos audiovisuais e coletivos, com diversos artistas locais, e mais!

Confere a entrevista abaixo:

Ah Tri: Tua história como artista e pessoa está diretamente ligada a do icônico bar Ocidente, há praticamente quarenta anos sendo a casa da cultura de Porto Alegre, e que neste momento traz o show S.O.S Ocidente. Fala para gente um mais dessa grande produção?

Julia Barth: Ter nascido no Ocidente é um dos meus grandes privilégios, em um lugar onde a cultura sempre foi muito presente. Todas as artes e tipos de experimentação, com tanta diversidade de pessoas, gêneros e comportamentos…não é todo mundo que tem essa possibilidade, de nascer em um lugar onde não existem limites para cada ser ser o que quiser.

Isso é muito mágico, foi uma infância incrível. Crescer em meio a shows e àquela gente maluquíssima, artistas, músicas, poetas, escritores, jornalista, cineastas, enfim, uma grande infância.

O Ocidente é tipo meu irmão mais velho. E também é meu ganha pão, até o início da pandemia eu não era funcionária do bar, mas eu tinha uma festa, a Blow Up, que sustentava a mim, meu filho e minha casa.

Eu sempre precisei do Ocidente. Posso ser artista, ter banda e viajar porque eu tenho emprego lá, onde só trabalho presencialmente em uma noite do mês e que me paga um bom salário, mas desde que começou a pandemia, fiquei sem a festa, então, sem dinheiro algum, fui trabalhar lá no almoço.

Eu, minha mãe, meu pai e meu irmão, toda a família, voltamos a trabalhar no Ocidente, com poucos funcionários, pois todos precisavam pegar ônibus para trabalhar e o risco é grande. Por isso, reabrimos reduzido; aos poucos, outros funcionários foram voltando, mas boa parte deles ainda estão afastados.

A história do Ocidente fala por si só, mas o bar só faz sentido com as pessoas, então é muito triste ver ele vazio. seguramos como deu durante este período, o Fiapo (Barth), meu pai (e dono do ocidente) usando reservas de dinheiro pessoais para pagar as contas das 3 casas que formam o ocidente…

…fora luz, água, IPTU e folha de funcionários, que não é pequena, fornecedores, enfim uma lista assim de gastos e há uns 3 meses esta reserva de dinheiro acabou, então começamos a operar no vermelho e…

…eu tive essa ideia, como adoro um trabalho voluntário, de fazer um festival que eu produziria e comecei, bem louca, sozinha, chamando Deus e o mundo e Deus e o mundo me deram a mão e resolveram participar, doando seu trabalho, sua arte para o festival que chegou a 50 participações.

S.O.S Socorro Ocidente Show será um festival online, todo pré-gravado, sem aglomerações, alguns artistas se gravaram, outros nos gravados e alguns doaram material pronto. Foi um trabalho super colaborativo, com produção executiva minha, da Virgínia Simone e do Claus Pupp. Com direção geral da Virgínia e minha, e várias outras pessoas que trabalharam voluntariamente. Já agradeço a quem comprou ingresso e a quem vai comprar. Duas noites no dia 16, sexta-feiras, às 21h, com link aberto durante o fim de semana, a qualquer hora, e 23 de julho, funcionando do mesmo modo.

Os Replicantes. Foto: Rodrigo Eiles/Facebook de Julia Barth.

Ah Tri: Tu és a vocalista dos Replicantes, dos Alcaloides, instrumentista em 3D e Cine Baltimore entre outros projetos musicais. No âmbito da música, o que de Julia Barth vem por aí?

Julia Barth: Poxa, 4 projetos já é bastante coisa! Julia Barth é uma pessoa que faz parte de bandas ou ela é a crooner e, às vezes, ela é a baixista.

São muitos projetos espero estar na estrada com Os Replicantes de novo, lançando novo material; Cine Baltimore tá com o disco pronto e estamos vendo se primeiro lançamos só nas plataformas digitais ou se a gente tenta financiamento para disco físico, queremos muito lançar um vinil, mas no momento parece sonho impossível, até por causa dos preços; 3D eu estou só por fazer um disco novo com a atual formação, que está boa demais, mas sei as minas do punk têm muitos projetos: são vida louca!

Alcaloides está pensando em lançar um disco! Essa é a novidade que ainda não foi jogada ao vento, e espero que se concretize, pois estamos nos comunicando muito durante a pandemia e teve um sentimento-feeling, acho que vai rolar esse encontro para sair um disco com todo mundo que já passou pela banda!

E antes da pandemia começar, estávamos com projeto novo, eu, Letícia Rodrigues e Kelen Zee chamado Saliva que espero retomar assim que possível porque esse power trio de mulheres tava maravilhoso: Kelen na guitarra e nos vocais, Lets na bateria e nos vocais e eu no baixo e nos vocais.

Ah Tri: O canal do YouTube "Pandemídia", criado durante a pandemia, entre outros projetos tem o minimundo, onde tu, em colaboração com diversos outros artistas de Porto Alegre, produz o programa. Como é fazer uma criação, produção e direção envolvendo tantas pessoas?

Julia Barth: É uma das minhas qualidades agregar muita gente talentosa em volta. Eu atraio pessoas talentosas, o que me ajuda muito, porque são mais talentosas do que eu. Sou para-raio de artistas e de gente maluca.

O minimundo surgiu no começo da pandemia quando não tínhamos nada para fazer e eu comecei a ver programas de YouTube que achei alguns super despretensiosos e pensei: "isso a gente poderia fazer sem se matar trabalhando". O que foi um erro porque nos matamos trabalhando para o minimundo.

Acabei convidando alguns artistas que, na época, estavam trabalhando comigo na edição clipe da Cine Baltimore, e no fim fizemos um ano de programa e não lançamos o clipe, mas ele tá pronto, só estamos guardando.

Virgínia Simone, Matheus Walter, Fabio Lobanovski e Eduardo Norman eram o núcleo do projeto minimundo que surgiu a partir da ideia fazer uma revista eletrônica. E nisso agregou a Carol Grim, que tem um trabalho visual muito legal, de projeções, e aí, na sequencia, o Fabio Alt e a Kelen Zee adoraram a ideia e vieram a trabalhar no coletivo. Espero não estar esquecendo ninguém!

Foi uma experiencia ótima, mas na verdade tivemos que aprender um monte de coisa porque somos cringe ou mais, né. Ou cringe old school. Essa linguagem não é a nossa linguagem, isso tá claro no programa, que lembra mais um híbrido entre MTV e TV Educativa, com os nossos sotaques e personalidades.

Trabalhar em coletivo é algo que ainda tenho aprendido a fazer, há muitos anos, comecei há um tempo com o Girls Rock Camp, que conhecemos em 2016, eu e mais algumas outras grandes mulheres de Porto Alegre.

Gosto muito trabalhar assim, mas é complicado porque cada um doa o que pode, então deve-se ter paciência. Tem que segurar para os outros quando precisa, não se cobrar muito, senão não dá certo. Ao mesmo tempo, tem que ter responsabilidade de cumprir o que se compromete a fazer. É um trabalho para pessoas responsáveis e que querem muito fazer esse tipo de trabalho coletivo.

Foto: Facebook de Julia Barth.

Ah Tri: A pandemia de Covid-19, no Brasil, ainda parece longe do fim e a classe artística tem poucas expectativas de voltar às atividades presenciais; como tu, agente cultural em tantas esferas, que precisa do público, estás lidando com este distanciamento?

Julia Barth: A classe artística e os técnicos das artes, esses também estão bem fodidos, é desesperador. Socorro, que nem o Ocidente! Não sei que fim levaremos, mas espero que agora isso acabe, que esse ano seja o último de clausura porque tá muito difícil.

E não é só financeiramente, é a vontade de viver sem fazer o que a gente faz, nosso trabalho é estar na estrada e no palco ou no backstage, então é um desânimo enorme. Mas acho que também estamos inventado outras coisas, fazendo o que dá, sem perder a fé que resistiremos porque vamos resistir. Fora Bolsonaro.

Ah Tri: Em 2019, tu gravou o 13º álbum de estúdio dos Replicantes, que posteriormente gerou um documentário. Lá nos anos 80, eles foram a primeira banda gaúcha a gravar um clipe. Qual o significado de ser vocalista dos Replicantes, para ti, como artista em geral?

Julia Barth: É um privilégio ser vocalista dos Replicantes, acho que foi uma sorte incrível que tive de ter sido escolhida para estar lá com eles, porque são pessoas incríveis, com um repertório incrível e uma trajetória incrível.

Os Replicantes eram das minhas bandas favoritas antes de eu entrar na banda, sempre foi uma referência fortíssima pra mim. Sou apaixonada por várias letras. É uma banda sem frescuras, uma banda que é do faça-você-mesmo, a gente é uma banda underground mesmo com 37 anos, eu acho, algo assim. Enfim to morrendo de saudade de estar com os meus meninos!

Agora estão todos vacinados, eu consegui tomar a 1ª dose também e espero que em breve a gente esteja junto. Vamos estar no Socorro Ocidente Show, no dia 23 de julho e vem coisa por aí!

O sentimento é esse: gratidão. Essa palavra esquisita. Eu agradeço muito a oportunidade de ter tocado em festivais para o Brasil inteiro e conhecer gente muito legal e outros artistas na estrada, fazer viagem, turnê européia: Os Replicantes só me deram coisas boas! Espero que a gente continue e já estamos loucos pra fazer disco novo! Go ahead, Replicantes!

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Produtora cultural porto-alegrense voltada à movimentação artística e política local. https://linktr.ee/ahtricultural